Comemoração da 100ª postagem - porque virei blogueiro




Nos últimos meses, tomei a decisão de dedicar parte do meu dia à escrita de textos para divulgação de idéias e questões científicas relacionadas ao meu dia-a-dia de pesquisador. Tem sido uma experiência fantástica, muito gratificante por inúmeras razões. Além do exercício de organizar ideias e elencar prioridades, tenho recebido muitas respostas inspiradoras, o que me deixa estimulado a continuar no caminho da discussão mais ampla de temas relevante com os colegas e com a sociedade em geral.


É PRECISO COMUNICAR CIÊNCIA. Hoje em dia isso é mais urgente do que nunca, visto o avanço da avalanche de informações desencontradas, a ignorância e personalismo de nossos líderes, muitos populistas e corruptos, que tomaram de assalto os diferentes níveis da nossa sociedade. Não acredito que a ciência seja a solução de todos os nossos problemas, mas sem dúvida a ignorância é um campo fértil para as iniquidades.



Nesse sentido vale fazer um relato pessoal. Meu pai, Seu Werther, era um racionalista por excelência. Ele era de uma geração que acreditava que a razão era o melhor caminho para se compreender o mundo, propor respostas aos problemas e soluções para os conflitos. Ele me ensinou sempre a ponderar, analisar as situações, identificar as simplificações e os extremos e tentar sempre escolher o caminho mais inteligente possível, muitas vezes o caminho do meio. Além disso, recebi o o exemplo sólido dos meus pais de que a melhor maneira de vencer na vida era através do estudo e pelo trabalho, exemplo que tentei seguir durante toda minha vida e que tento passar para os meus filhos e alunos. Estudar sempre, não porque te obrigam ou mandam, mas porque é através do estudo que podemos ser pessoas melhores, descobrir e realizar coisas fantásticas e interessantes.



Contudo, meu pai as vezes desabafava conosco que a sociedade estava ficando maluca. Ele ponderava que o ser humano passava por ciclos de racionalismo e de misticismo, e que nós estávamos atravessando um ciclo de misticismo aonde o pensamento racional e científico mostrava-se desvalorizado e deixado de lado. Como exemplo, ele dizia que na época dele (década de 60), charlatães e enganadores eram processados e presos, por roubar e abusar da boa fé a leia. O exemplo que ele dava naquela época era do Walter Mercado, e não esqueço de suas afirmações contundentes: ¨Esse cara devia estar preso!¨ Hoje em dia nós vemos uma invasão quase epidêmica de todo tipo de charlatanismo, fanatismo, misticismo e enganação. Abusa-se da boa fé das pessoas doentes, miseráveis, ou mesmo ricas e ignorantes, com base no seu egoísmo e presunção. Especialistas em psicologia humana exploram todas as falhas da nossa personalidade para ganhar dinheiro. Aliado a isso, temos um contexto aonde o conhecimento científico e racional é contestado o tempo todo, e muitas vezes recusado pelas pessoas que mais se beneficiariam da sua aplicação. Temos aí o exemplo das vacinas e das pessoas que se recusam a se vacinar, e que colocam em risco não só própria vida mas a vida das pessoas que vivem ao seu redor. Meu pai diria: ¨Essas pessoas deviam estar presas!¨



Meu pai se queixava do ciclo de misticismo na década de 90 e anos 2000. Já fazem 20 anos, e eu não sei quanto tempo esta triste época vai demorar. Seja como for, precisamos defender os ideais da ciência AGORA, precisamos colocar no papel, na internet, nas ruas e nas conversas cotidianas o valor do conhecimento, do pensamento racional e científico, para a solução dos problemas da sociedade e melhoria da qualidade de vida de todos. De todos. Precisamos bater o bumbo da ciência na praça todos os dias, de todas as formas, seja pessoal, digital, no papel, no grito e no sussurro. E é por isso que decidir fazer o esforço de escrever sobre o dia-a-dia da ciência que observo como profissional. Meus textos podem não ser os melhores, podem ter opiniões às vezes questionáveis e desencontradas, mas é melhor discutir e colocar a ciência em pauta do que não fazer nada. Saravá, papai!

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