A digestão de insetos - parte 1

No laboratório o nosso tema de estudo é a digestão em insetos vetores. Existem inúmeras razões que justificam esses estudos e, e devido à sua importância (e ao grande amor que tenho pelo meu trabalho) vou escrever sobre elas nos próximos textos.

Insetos são seres vivos do grupo Hexapoda. São pequenos animais, conhecidos por terem seis patas. Dessa característica vem o nome Hexapoda, já que Hexa significa seis em latim. As pessoas costumam estar mais familiarizadas com esse termo por causa da pretensão do Brasil em ser hexa campeão mundial de futebol. Poda, significa pata, mas não me vem à cabeça nenhuma referência popular para esse termo no momento. O número de patas de um inseto pode ser usado para qualidade e diagnóstico da informação que se quer transmitir ao público. Um especialista costuma ficar irritando ao ver mosquitos desenhados com duas, quatro, ou oito patas, o que revela de certa forma que o desenhista não sabe o que está fazendo.

Os insetos tem outras características importantes, como a presença de um exoesqueleto duro, assim como articulações nas patas, e um número variável de asas de nenhuma a quatro asas. Uma das propriedades do grupo que impressiona todos os que se debruçam sobre o tema é a sua enorme diversidade. O grupo dos insetos tem milhões de espécies biológicas, cada uma podendo ter milhões de indivíduos. Para efeito de comparação, os seres humanos constituem apenas uma única espécie, com 7 bilhões de indivíduos. É comum vermos os livros mostrando a distribuição do número de espécies por grupo biológico, e os insetos sempre se destacam nesse aspecto, pois compreendem metade da diversidade biológica conhecida, ou cerca de 70 a 80% da diversidade animal. Por exemplo, existem 170 mil espécies apenas no grupo das borboletas, e mais de 350 mil espécies só de besouros. Não há nada parecido na natureza.

Essa diversidade por si só já justifica os estudos no grupo. Se quisermos compreender a história evolutiva dos seres vivos, ou estudar qualquer fenômeno biológico de maneira comparada, não podemos ignorar o maior grupo de espécies vivas. Isso vale para estudos sobre respiração, digestão, excreção, reprodução, doenças e respostas imunológicas, entre outros temas. E qualquer estudo biológico que não seja feito de forma comparada é de certa forma limitado.

A melhor maneira de entender porque somos ou funcionamos assim é observar como isso ocorre nos outros organismos, procurando padrões estruturais, fisiológicos e evolutivos. É preciso tomar cuidado com o antropocentrismo exagerado da ciência, pois muitas vezes as melhores respostas para as perguntas que nos preocupam estão fora de nós, na natureza, seja no nosso jardim ou nas profundezas da floresta amazônica.

(continua)