Mensagem ao Congresso Nacional - e algumas considerações sobre a qualidade da nossa representação
Nesse fim de semana, encaminhei a mensagem abaixo a todos os deputados e senadores. Fui inspirado pela excelente Profa. Alicia Kowaltowsi, do Instituto de Química de Universidade. Em uma postagem do Facebook, ela não só estimula os colegas a se pronunciarem, mas também fornece uma lista de contatos dos parlamentares para facilitar. Sensacional! A lista atualizada (corrigi alguns errinhos e organizei em pacotes de 100 para ficar mais fácil de enviar) segue na próxima postagem. Vamos ao texto:
Assunto: URGENTE - Recomposição Orçamentária do CNPq e da CAPES
Prezado deputado,
Dirijo-me a Vossa Senhoria impelido pela urgência da decisão catastrófica do governo de diminuir drasticamente os recursos para as agências de fomento à pesquisa do país. Em nenhum país do mundo a pesquisa básica é financiada pela iniciativa privada, especialmente a formação de quadros qualificados. Posso dizer por experiência pessoal que nem nos EUA e no Reino Unido é assim. Nos países desenvolvidos, a formação de cientistas e de conhecimento básico é uma ação de Estado extremamente estratégica.
Caso essa proposta de orçamento de 2020 se confirme, as consequências para o país serão desastrosas, afetando a economia, a saúde e até a segurança nacional. Posso falar da área da Saúde que é a minha especialidade. Nos últimos cinco anos, tivemos epidemias de febre amarela, dengue, chikingunya, e zika. Destaco que três dessas doenças foram eventos novos na saúde pública, e se não houvessem especialistas treinados não haveria resposta adequada a tempo. Não preciso destacar os milhões de mortes que foram evitados pelos profissionais de vigilância.
O tempo de formação de um profissional desses é longo. Além dos 12 anos de ensino fundamental e médio, há o tempo da faculdade (4-5 anos, dependendo da carreira) e a pós-graduação, que é essencial para que o profissional adquira desenvoltura na resolução de problemas da área em tempo real. A pós-graduação, mestrado e doutorado, leva em torno de 6 anos. Isso significa que um doutor em saúde pública necessita de mais de 20 anos de estudo para ter capacidade de, por exemplo, decidir a estratégia adequada frente a um surto de Febre Amarela. Interromper esse processo pode ter consequências dramáticas.
Espero que o Senhor se sensibilize e tome ações adequadas para reverter esse quadro. É preciso investir em ciência mais do que nunca, para fazer com que o país volte a ser competitivo economicamente e esteja à altura dos problemas do mundo atual. Coloco-me à disposição para ajudar no que for preciso, e, caso tenha interesse, recebê-lo na Fundação Oswaldo Cruz para ações de esclarecimento e sensibilização da opinião pública para o tema.
Com os mais reiterados protestos de estima e consideração,
Dr. Fernando Ariel Genta - Pesquisador Titular - FIOCRUZ
Chefe do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos
Coordenador da Pós-graduação em Vigilância e Controle de Vetores
Vale destacar que escrevi para TODOS os deputados e senadores. Acho que independentemente do espectro político, são todos meus representantes, e deveriam estar muito preocupados com o futuro da ciência e do Brasil.
Ainda é muito cedo para avaliar qualquer tipo de resposta, mas vale comentar alguns fatos imediatos. O parlamentar abaixo não recebeu o email, por que a caixa postal está cheia. Vale dizer que todos os emails foram copiados do site do congresso nacional. Nesses casos, vale perguntar: para que serve um Parlamentar que não consegue nem RECEBER um email?
Os dois parlamentares abaixo enviaram respostas automáticas:
Deputada Chris Tonietto
Senadora Leila Barros
Nesses casos, o que me chamou a atenção é o aparente profissionalismo dessas duas equipes, e a falta de profissionalismo do resto. Nós pagamos milhões de reais em assessores, e apenas dois de quase 600 congressistas conseguem configurar uma resposta automática? Isso é espantoso.
Enfim, vamos aguardar se há algum desdobramento. Seja como for, a pergunta que não quer calar: você já escreveu para os seus representantes a respeito da crise de financiamento para a Ciência no Brasil?
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