Um balanço de 2018
Ao longo do ano fui amadurecendo uma impressão que
vou começar a testar agora. Acredito que seria importante se todos os
laboratórios de pesquisa do país fizessem um balanço público anual, assim como
o fazem as empresas de capital aberto (que na verdade publicam balanços
trimestrais, semestrais, ou até mesmo mensais!). É claro que o contexto dessa prestação
de contas é outro, pois os laboratórios de pesquisa não tem a função de dar
lucro a seus investidores.
Mas, se formos fazer um paralelo, a sociedade
em geral são os nossos investidores, e os relatórios que produzimos para as
agências de fomento são lidos por pouquíssimas pessoas e têm um caráter
eminentemente técnico. Então, imbuído do espírito de tornar pública a ciência
que produzimos ao longo do ano, resolvi fazer um balanço de 2018.
O primeiro item que vou discutir é a nossa produção
bibliográfica. Ao longo do ano eu e meus alunos publicamos três artigos científicos
em revistas internacionais. O primeiro foi sobre alimentação sanguínea em
flebótomos (acesso grátis AQUI), o segundo sobre digestão de açúcares em fungos (acesso grátis AQUI) e o
terceiro sobre o desenvolvimento de iscas açucaradas para bloqueio de
transmissão de Leishmanioses (acesso grátis AQUI). Todos eles foram publicados em revistas de
prestígio, e representam avanços técnicos ou conceituais que considero
importantes na nossa área e no nosso grupo de pesquisa.
Conseguir que flebótomos se alimentem de sangue
duas vezes com eficiência é um desafio técnico muito grande, e foi superado
pela excelente Doutora Caroline Moraes. Além disso, ela verificou que a segunda
alimentação sanguínea tem impacto na infecção com Leishmania e na secreção de
enzimas digestivas.
O estudo de glicosidases pode ter impactos enormes
na produção de biocombustíveis. A excepcional Doutora Samara Costa purificou e
caracterizou duas enzimas com grande potencial tecnológico, sendo capazes de
degradar diferentes tipos de biomassa. Esse trabalho foi muito importante para
nós por que implantou no nosso laboratório técnicas de purificação e identificação
de enzimas que serão aplicadas em outros organismos.
Por último, o desenvolvimento de iscas
açucaradas para bloqueio de transmissão é um avanço conceitual importante, que
foi desenvolvido pela competentíssima Mestra Tainá Neves Ferreira. É a primeira
vez que se direciona a tecnologia de iscas açucaradas para atacar um parasita
dentro do inseto vetor. Nós tivemos sucesso em eliminar parasitas causadores de
Leishmaniose no intestino de flebotomíneos, e estudos futuros vão avaliar se essa
ferramenta tem aplicabilidade no campo.
Outro tipo de produção no qual tivemos bons resultados em 2018 foi na formação de recursos humanos. Tivemos duas defesas de
doutorado bem sucedidas, das Doutoras Samara Costa e Raquel Santos Souza. A
Dra. Samara estudou no seu doutorado a digestão de açúcares em flebotomíneos (acesso AQUI), e
a Dra. Raquel Souza estudou a digestão de microorganismos em larvas de mosquito
da Dengue (acesso AQUI). As duas foram brilhantes em suas defesas, e parecem bem encaminhadas
para o pós-doutoramento, com artigos para publicar e novos projetos para desenvolver.
Novos alunos deram início a atividades no laboratório,
o que é sempre estimulante. O Doutor Bruno Gomes e a Mestra Camila Oliveira iniciaram
o estudo de larvicidas contra o mosquito da Dengue, o aluno de iniciação científica
João Drummond iniciou estudos sobre silenciamento gênico em flebotomíneos, e a
bióloga Lidiane do Nascimento iniciou seu treinamento em biologia de flebotomíneos
visando estudos de interação com fungos. Além disso, tivemos a entrada no
doutorado do querido Rodrigo Miranda, que será orientado pela Doutora Daniele
Castro em um projeto sobre interação de barbeiros e mosquitos com fungos.
Alguns alunos passaram pelo ritual da qualificação com sucesso, o que é sempre
muito positivo, pois indica que estão fazendo um bom trabalho. São eles a
doutoranda Kate Katherine Batista, e os mestrandos Huarlen Ogélio, Fabiane
Brandt, Fábio Castello e Rodrigo Xavier.
Dos projetos do laboratório, vale a pena
destacar o início de duas colaborações internacionais. A primeira é com os
queridos Professores Ivy Hurwitz (UNM), Marcelo Ramalho-Ortigão (USU) e Ravi
Durvasula (Loyola Medicine), dos EUA, em um projeto patrocinado pelo CDC-EUA,
para desenvolvimento de larvicidas contra mosquitos. A segunda é com os também
muito queridos Professores Rod Dillon e Luigi Sedda (Lancaster), e Chris Sanders
(Pirbright), no desenvolvimento de novas ferramentas para o estudo de dispersão
de flebotomíneos, projeto patrocinado pela agência britânica BBSRC. Também
considero muito importante chamar a atenção para o aparente renascimento da
FAPERJ, pelo menos em termos de pagamento de auxílios à pesquisa. Em 2018 foram
iniciados o pagamento de dois projetos importantes: o INCT de Entomologia
Molecular, um das iniciativas em rede mais importantes na ciência brasileira na
última década, e o projeto de Auxílio para o IOC que tivemos aprovado em 2015, visando
a modernização de nosso insetário de flebotomíneos. Esse segundo projeto,
obtido em colaboração com os colegas Yara Traub-Cseko, Reginaldo Brazil e
Rafaela Bruno, deve beneficiar não só a comunidade do IOC mas todos os que
trabalham com flebotomíneos e têm usado os insetos de nossa criação. São mais
de 20 grupos de pesquisa em diferentes estados do Brasil e no exterior, que
apenas requisitam amostras ou atuam conosco em projetos colaborativos.
Eu tive a oportunidade de participar de
congressos interessantíssimos em 2018. Tive a alegria de voltar ao congresso da
Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (acesso AQUI), que é a minha casa
científica, para coordenar uma mesa redonda sensacional sobre Entomologia
Molecular. Sem falar no enorme prazer de rever o meu saudoso orientador Prof.
Walter Terra. A minha queridíssima orientadora Professora Clélia Ferreira fez mesmo
muita falta, mas com sorte nos veremos em 2019. Além disso, pude participar do
espetacular MedTrop em Recife (acesso AQUI), apresentando nosso trabalho com glicosidades de
flebotomíneos, e tive o enorme prazer de ver a doutoranda Tainá Ferreira falando
sobre nossas iscas açucaradas. Ver os alunos tendo sucesso é sempre muito
emocionante. Além disso, tive o prazer enorme de rever a grande amiga Maria
Helena Neves, do IAM/Fiocruz, e os queridos Sinval Brandão e Constância Aires.
Infelizmente não estava muito bem de saúde na ocasião, e não tive disposição para
colocar o papo em dia com todo os amigos...
Participar no Encontro do grupo Arthromint (Acesso AQUI) sempre é um privilégio, e esse ano foi duplamente especial. Tive o prazer de poder
levar a Profa. Hurwitz para dar uma das conferências, e acho que ela gostou
bastante de visitar o Brasil pela primeira vez. Além disso, coordenei a mesa
temática de Digestão em Insetos, e como dessa vez fiquei órfão dos meus colegas
de mesa Carlos Peres, Franzé, Carlo e Nélder, aproveitei para fazer uma dinâmica de desenvolvimento
e apresentação de projetos muito divertida. Encerrei os meus périplos com a ida
a Nova Orleans para participar do congresso da ASTMH, a Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene (Acesso AQUI). Foi um congresso absolutamente fantástico, aonde conheci
pessoas interessantíssimas e fiz contatos muito importantes. Foi um prazer
enorme me reunir com Ivy, Marcelo e Ravi, conhecer os espetaculares Drs.
Michael Workman e Ju Lin Weng Huang, e os simpaticíssimos Drs. Camila Oliveira
do IGM/Fiocruz e Fabiano Oliveira do NIH. Sem falar na oportunidade de rever
grandes amigos, Prof. Alvaro Acosta-Serrano, Profa. Mary Ann McDowell e Cate
Flanley. Bateu uma vontade enorme de rever Notre Dame e de Liverpool. Nova
Orleans deixou mesmo saudade, com sorte um dia eu volto a essa maravilhosa
cidade.
Vale comentar também o progresso da
Pós-graduação em Vigilância e Controle de Vetores da Fiocruz (Acesso AQUI). Já temos 40
alunos de mestrado fazendo o curso, o que é muito animador para um curso com menos
de 2 anos de atividade. Fizemos a primeira rodada de qualificações com sucesso.
Tem sido um prazer enorme trabalhar com os Drs. Monica Ammon, Daniele Castro,
Rafaela Bruno, Denise Valle, Ângela Junqueira, Otacílio Moreira e José Bento
Lima na coordenação do Programa. Sentimos saudades da Rose, que nos deixou, mas
tem sido muito bom trabalhar com a Helenice, secretária que assumiu a árdua tarefa
de me aturar ao longo do ano. Todos os docentes e alunos do programa também têm
sido excepcionais, tanto academicamente como do ponto de vista pessoal,
ajudando sempre que possível.
É importante também mencionar os desafios que
tivemos com as mudanças no laboratório. A aposentadoria da Dra. Patrícia
Azambuja acabou nos deixando um pouco órfãos, com muita saudade mesmo. Pelo menos
eu tenho a sorte de dividir o laboratório com a maravilhosa Dra. Daniele Castro,
que tem sido sensacional em todos os aspectos. Estamos animados para o ano que
vem, e torço muito para que tenhamos sempre uma parceria de sucesso. Vale dizer
que mesmo um pouco à distância a Dra. Patrícia continuou contribuindo muito
conosco, sendo responsável pelos projetos das excelentes Dras. Cecília Stahl e Caroline
Moraes, e também publicando 3 artigos em revistas internacionais importantes (acesso AQUI).
Enfim, para encerrar, resta comentar a retomada
de minha aventuras cibernéticas. Voltei às minhas postagens, criamos páginas e
canal de Youtube para o programa e para o laboratório (acesso AQUI). Um dos nossos vídeos (da
espetacular doutoranda Bianca Henriques) virou até um GIF na internet! Ao todo
foram 124 postagens, com cerca de 7700 visualizações. Para quem escreve sobre assuntos
áridos como bioquímica de insetos talvez não esteja de todo ruim, mas pelo menos estou me divertindo, espanando a poeira dos neurônios e fazendo o que
gosto. Enfim, quero deixar aqui já um pedido de desculpas se deixei passar algo
ou alguém importante (me avisem nos comentários por favor!), e um enorme
obrigado a todos os que me acompanhar nessa longa jornada. Deixo aqui o meu abraço
e desejo que todos tenhamos muito sucesso em 2019. Feliz Ano Novo pessoal!
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