A Bioquímica do Oprimido (parte 7) - A linguagem da purificação

¨Na verdade, depois do episódio dos Rochedos Errantes, o estilo do Ulysses tomou os personagens como o foco do interesse de Joyce, e até mesmo as figuras principais, como Stephen e Bloom, aparecem cada vez mais como pretextos para uma série de reflexões sobre noções de linguagem e estilo. Essas reflexões apresentavam um problema central da escrita moderna: a quebra da antiga equação entre a estrutura da língua e a estrutura do mundo conhecido. Em termos mais simples, as esferas do conhecimento científico e técnico haviam se expandido imensamente no período moderno, enquanto os recursos da língua pareciam defasados. Esses desenvolvimentos, tais como a exploração analítica da consciência e da inconsciência, tinham sido confrontados apenas pouco tempo antes pelos criadores de literatura; e Joyce foi um dos primeiros a encarar o desafio.¨
(Introdução a Ulysses de James Joyce, Declan Kiberd)

Nas semanas anteriores eu cheguei a comentar um pouco essa questão em sala, de como a nossa linguagem está completamente defasada em relação ao conhecimento científico. Essa é uma questão muito interessante, pois há idéias e coisas que nós não temos, a rigor, termos adequados para descrever. A solução mais trivial é emprestar os termos de outro campo epistemológico, ou mesmo de outra língua. No primeiro caso corre-se um risco enorme de cometer impropriedades lógicas, simplificação e transposição inadequada de conceitos de uma área para outra. No segundo, nosso domínio cultural do conhecimento se fragmenta e fica com algumas conexões internas ausentes...

Um exemplo que eu gosto muito é o de Evolução de Proteínas. Proteínas a rigor não evoluem. O conceito de evolução biológica é algo que foi desenvolvido para espécies, populações de organismos, e não moléculas. Mas nós emprestamos o termo, e todo mundo se entende ao discutir evolução molecular.

Essa semana esbarramos um pouco nesse problema. Vale destacar que a situação para cientistas e estudiosos brasileiros é ainda pior, por que o conhecimento técnico pós-moderno foi todo desenvolvido em inglês, e para um monte de coisas niguém ainda se deu ao trabalho de cunhar palavras novas ou mesmo traduções consensuais em português. O exemplo mais candente, para mim, é quando vemos a confusão de traduçoes nos nomes dos modelos de inibição enzimática, mas essa é outra história...

Após discutir o capítulo de Ténicas de Purificação de Proteínas e Ácidos Nucleicos (capítulo 6), os alunos destacaram os seguintes temas para trabalho na atividade em sala:

Purificação de proteínas
Salting in/out (2 votos)
Eletroforese (3 votos)
Focalização Isoelétrica (2 votos)
Eletroforese 2D
Cromatografia

Esses temas foram todos apontados por que os verbetes existentes na Wikipedia continham erros ou eram muito superficiais. Após um pouco de deliberação, dividimos a sala em 3, com três alunos trabalhando em Eletroforese, 2 alunos em Focalização Isoelétrica, e uma aluna em Salting in. Seguem os links dos resultados:




Como vocês podem perceber ao clicar no terceiro link, o verbete ¨Salting in¨ foi removido. Eu cheguei a receber um aviso de remoção automática com a justificativa de ¨título de verbete absurdo¨. Tentei argumentar que era um conceito em Bioquímica importante mas não teve jeito. Agora, precisamos encontrar um substituto em português para o conceito. Alguém têm alguma idéia?


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