A paciência e a importância - parte 6

O Brasil tem problemas velhos e novos. Estruturas velhas e novas. Questões resolvidas e muitas não resolvidas. O Brasil tem problemas que nem sabe que existem, porque estão no futuro.

As estruturas, sejam elas físicas, teóricas, sociais, políticas ou econômicas, frequentemente se desenvolvem no país em função das questões a resolver no momento. Supõe-se que sejam soluções - mas na maior parte das vezes, não passam de respostas bem intencionadas.

Há o caso de problemas antigos que tem recebido respostas novas, em diferentes momentos da história. Essas respostas se sobrepõe, e muitas vezes perde-se a percepção de como a novidade é resultado da evolução das anteriores. Existe um comportamento político obsessivo na criação do novo, pois a criação traz a ilusão de posse, de domínio.

Há o caso de problemas genuinamente novos, que surgem com a tecnologia, com mudanças históricas, estruturais da sociedade. Invariavelmente num primeiro momento tenta-se enfrentar o problema com as ferramentas que já existem e estão à mão. E, quando essas não são suficientes, são necessárias ferramentas novas.

Uma armadilha comum é achar que a recriação ou repetição de estruturas existentes seja o suficiente para resolver problemas novos. Mas um martelo novo não é melhor que um martelo velho para colocar um parafuso. É preciso uma chave de fenda.

Outra armadilha comum é sobre o nível de novidade das proposições. É comum colocar-se o novo como completamente original, uma atitude ingênua do ponto de vista técnico. Em ciências, sabemos que o novo não existe, ou é raríssimo. Quase todo o conhecimento, estrutura biológica ou social é derivado de conhecimento prévio. É por isso que uma atitude instintiva na comunidade acadêmica é desconfiar do novo. Eu particularmente acredito que essa seria uma atitude bastante saudável em outros contextos, políticos, sociais e econômicos.

Um problema recorrente, e que é infelizmente estimulado pela natureza competitiva de nossa sociedade, é a proposição hipertrofiada. É o excesso de proposição, sem reflexão adequada sobre o tema. Mas qual é o balanço adequado entre reflexão e proposição? Evidentemente não existe uma resposta única, mas para problemas antigos, estruturais, recorrentes tenho a impressão de que deveríamos refletir pelo menos dez vezes mais do que propor. Mas para a reflexão é preciso tempo, análise, paciência. E uma vontade inabalável de aprofundar o problema até o seu esgotamento, seja na coleta de informações, seja nas questões conceituais. E infelizmente somos uma sociedade impaciente. Acredito que um exercício fundamental, para todas as nossas discussões futuras, é o questionamento interno, e dos interlocutores, da profundidade do nosso conhecimento e de nossas proposições. A coleta de informações, os testes e as análises realmente esgotaram o problema? Todas as possibilidades foram consideradas?

A comunidade acadêmica, técnico-científica, faz isso como ninguém. Mas faz isso para consumo interno, para as próprias questões, que tendem a ser muito específicas. O país de beneficiaria muito, em diferentes campos, se essa habilidade fosse transportada para nossas ações do dia a dia, ou mesmo para nossas posições políticas, sociais, educacionais, econômicas, sejam elas de curto, médio ou longo-prazo. Está na hora de pararmos de nos satisfazer com soluções rasas e imediatistas.

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