A ciência

É muito fácil, e eu faço isso com frequencia, associar a ciência a um conhecimento específico do universo. O conhecimento cientifíco é fonte de poder e foi uma das bases para o desenvolvimento da sociedade atual. Então a ciência, ao se deixar confundir com o conhecimento, tenta trazer para si o poder e o reconhecimento de sua importância para nós, seres humanos.
Mas há pelo menos três perigos embutidos nessa operação mental, todos de natureza reducionista. O primeiro é ignorar que existem outras formas de conhecimento, não científicas, e que elas também são importantes para a sociedade. O segundo é confundir a causa com a consequencia, esquecendo-se da primeira, pois a ciencia é antes de tudo uma atividade humana, e o conhecimento o seu resultado. E o terceiro reside na ilusão de circunscrever a ciência no campo das coisas que se sabem, quando esta justamente trata da busca e do entendimento do desconhecido, do paradoxal, do inusitado.
É difícil separar o trabalho do cientista da atitude de rebeldia e questionamento que acompanham a curiosidade e a dúvida. E quando colocamos a ciência como catálogo de descobertas ou dados acumulados por gerações, ela perde sua razão de ser. Essa natureza contraditória, voltada para o passado e para o futuro, muitas vezes me faz perder a consciência do presente, e a desilusão ou o deslumbre excessivos são perigos iminentes. Além do fato de me fazerem perder tempo e energia, o mais grave é que eles minam a minha confiança na prática da ciência, nos meus ideais.

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