Membrane 2
HISTÓRICO
O quadro "Membrane 2" foi feito durante o segundo semestre de 2021, e terminado em Fevereiro de 2022. Sua execução foi particularmente demorada por que um primeiro estudo foi perdido (eu derramei água nele), e por que tive uma agenda de trabalho muito pesada nesse período.
O CONCEITO - A membrana dialética
Dando continuidade aos desenhos inspirados na membrana celular, acabei trabalhando no desenho seguinte aspectos paradoxais dessa estrutura. A natureza dialética dos seres vivos é algo que sempre me fascinou e estimulou, e encontrar conceitos e situações aparentemente contraditórios nos sistemas e estruturas sempre foi para mim um estímulo e uma estratégia de estudo e aprofundamento.
A primeira contradição aparente nas membranas dos tecidos e células vivos é a sua impressão de unicidade, ao mesmo tempo em que é composta por um conjunto de camadas. Dependendo da representação, e da polaridade das células representadas, a membrana celular aparece como um assoalho, paredes, ou mesmo o topo da célula. Nos desenhos muitas vezes ela aparece como uma coisa única, e funcionalmente ela atua como uma estrutura singular, mas dependendo da definição podem ser observadas no mínimo duas camadas. Há estruturas membranares com múltiplas camadas, que não seria viável detalhar ou descrever aqui, mas o que se observa comumente em sistemas biológicos são as bicamadas lipidicas, que são lindamente relevadas por microfotografias eletrônicas, criofratutas, que são técnicas especializadas que relevam estuturas com definição de milionésimos de milímetro. Hoje sabemos que mesmo os lados da bicamada lipídica podem ser completamente diferentes do ponto de vista da estrutura e composição, assim como também são conhecidas estruturas com apenas uma camada lipídica. Na natureza, quanto maior o detalhe dos estudos, em geral maior e a complexidade e diversidade. Dessa forma, eu tentei representar camadas, como vemos nos assoalhos, tetos, paredes ao nosso redor.
O outro paradoxo aparente é o que trata da função das membranas biológicas como delimitadoras de compartimentos. Uma primeira aproximação do papel da membrana celular é imaginar que ela estabelece os limites, os contornos da célula. Mas ao mesmo tempo sabemos que é através das membranas que as células realizam trocas e se comunicam com o meio externo. O conceito de membrana semi-permeável é difícil, pois é necessário entender não só a complexidade estrutural mas também perceber a gradação inerente a praticamente todas as propriedades dos sistemas vivos, para admitir que ao mesmo tempo uma estrutura pode significar separação e conexão.
Nesse sentido surgiu a minha admiração e fascínio pelos canais iônicos, poros, receptores, que são as estruturas que especificamente fazem a conexão da célula com o meio externo e que, no fim das contas, conectam dois mundos, duas dimensões: o meio intracelular e o meio extracelular. Ao ver algumas representações da membrana celular, o que me vêm à cabeça são os morros e as igrejinhas de Guignard. É engraçado imaginar que, da mesma forma que ocorre com os canais e poros de membrana, as igrejinhas são a conexão entre dois mundos, nesse caso o material e o espiritual, e se localizam na superfície entre eles. Não sei se o paralelo entre céu e inferno seria adequado a meio extracelular e citossol, mas se formos pensar na aquisição de nutrientes a partir de um meio nutritivo, nesse caso a fonte externa de tudo o que a célula precisa almejar, e na batalha ou trabalho incessante que ocorre no meio intracelular, é tentador imaginar uma idealização dos conceitos de ideal e de trabalho. Felizmente a maquinaria celular é fascinante e maravilhosa, e esse paralelo é facilmente subvertido. De forma que ainda não se criou uma Igreja do Evangelho Celular. Mas fica a dica.
PARA SABER MAIS
Atlas de microscopias eletrônicas
Electron Microscopy Methods for Studying Plasma Membranes (livro completo)
Scanning electron microscopy of cells and tissues under fully hydrated conditions
Criofratura de célula de levedura (imagem)
Obras Alberto da Veiga Guignard (Wikiart)
Obras Alberto Guignard (Itaú Cultural)
MATERIAIS
Papel de desenho A4 (Renauld Branco, 180g/m2). Linhas com caneta nanquim 0.7 mm. Cores com lápis de cor SuperSoft Faber Castell. Dimensões: 210mm x 297mm.
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