Membrane I

 





HISTÓRICO

O quadro "Membrane I" foi feito entre os meses de Maio e Junho de 2021. 


O CONCEITO


Uma das questões que foi bastante explorada durante a minha formação de biólogo é a tentativa de se definir seres vivos a partir de propriedades simples e distintivas, que os separem claramente da matéria não viva. Embora a diferença no dia a dia seja corriqueira e intuitiva, não é preciso se aprofundar muito para perceber o tamanho da esparrela, e uma das primeiras coisas que aprendi é que não há uma maneira fácil de se fazer essa divisão e conceituação.


Em algum momento eu abandonei a tentativa de uma definição funcional dos seres vivos e cheguei à conclusão de que a única definição possível é estrutural e histórica. A vida no planeta Terra é um fenômeno com causas e constituintes bem definidos, embora seja extremamente complexo e ainda não completamente compreendido pela ciência. Não é minha intenção me estender nessa discussão aqui, mas apenas destacar que, nessa vertente, um caráter crucial da vida é a separação entre componentes do organismo e o meio externo - que no caso da maioria se dá através de uma membrana celular, composta principalmente por lipídeos e proteínas.


A bicamada lipídica é uma estrutura hipnotizante. A história de sua descoberta e conceituação é uma das grandes aventuras da biologia moderna. O caráter fluido e semi-permeável da membrana é simplesmente fantástico. E o seu papel fundamental nos faz pensar na base da individualidade de todo ser vivo, que é o fato de não permitirmos a entrada ou saída indiscriminada de nossos componentes. Aqui pode ser feita uma brincadeira filosófica, se pensarmos que essa pode ser a base da nossa identidade não apenas no nível molecular, mas em outros, até no campo das idéias.


Aqui é preciso tomar cuidado com uma trapaça, que aterroriza todos os que adentram no campo da Biologia. Um grande perigo e uma derrota no campo da Biologia (na verdade, no campo do pensamento como um todo) ocorre quando não é possível definir uma entidade pelos seus componentes ou características, e ela acaba sendo definida e agrupada com outros pelo que ele não possui. Isso é uma grande fragilidade conceitual, e exemplos desse tipo de agrupamento são comuns na história da ciência - por exemplo, invertebrados, criptógamas, ápteros, não metais... Assim, o que nos define não é o que não deixamos entrar, mas sim o que temos dentro de nós.


Seja como for, uma fronteira molecular nos define como seres vivos, e essa fronteira, além de ser composta por uma infinidade de pequenos grupos lipídicos que formam o arabouço da bicamada, também é composta por proteínas de diferentes tamanhos, muitas delas mergulhadas na membrana, formando poros ou canais - os portais que definem o que pode entrar e sair da célula. Essa construção maravilhosa é a inspiração para o desenho "Membrane I". Durante o desenho pude experimentar diferentes impressões, desde a de muralha até a de portais no espaço para outra dimensão. No fundo, uma saudade imensa das aulas de biologia celular e das grandes descobertas da juventude. Com sorte talvez eu consiga abrir novos canais para novos conhecimentos.


PARA SABER MAIS


Membrana plasmática

Bicamada lipídica

Membrana celular - história I (inglês)

Membrana celular - história II (inglês)

Membrana celular - ultraestrutura (inglês)


MATERIAIS


Papel de desenho A4 (Renauld Branco, 180g/m2). Linhas com caneta nanquim 0.7 mm. Cores com lápis de cor SuperSoft Faber Castell. Dimensões: 210mm x 297mm.



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