Number three

 



HISTÓRICO


O quadro "Number Three" foi feito após a retomada de minhas atividades presenciais no laboratório, em Setembro de 2020.  Ele faz parte de uma série de imagens que foram obtidas no laboratório ao longo do segundo semestre de 2020.


O CONCEITO

 

O quadro "Number Three" traz as mesmas referências externas expostas para o "Number One" e "Number Two", sendo uma imagem obtida na mesma série de procedimentos laboratoriais.

Aqui vale a pena comentar que, embora uma série praticamente infinita de quadros como esse possa ser obtida no laboratório, eles têm a beleza inerente a muitos fenômenos naturais, que é a individualidade e originalidade. Por mais padronizadas que sejam as condições do laboratório em termos de umidade, luminosidade e temperatura, por mais padronizados que sejam os potes de criação, em termos de tamanho, material e numero de insetos, por mais padronizado que seja o papel, em termos de qualidade, tamanho e dobraduras, por mais padronizada que seja a alimentação dos insetos, nunca teremos dois papéis iguais. E mesmo que tudo siga os rigorosos padrões de qualidade da nossa instituição. 

Isso levanta dois grandes questionamentos. O caráter único e variável desses papéis mostra o quanto, por mais que tenhamos uma impressão de deslocamento e artificialidade, laboratórios, animais de laboratório e seres humanos (no caso, insetos e cientistas) continuam fazendo parte da natureza. Na difícil e difusa dicotomia entre mundo "natural" e mundo "artificial", fabricado pelo homem, aonde entra o conhecimento científico? Embora seja uma criação particularmente humana, o conhecimento biológico versa basicamente sobre coisas naturais e, em última análise, é um modo de pensar, e o pensamento é uma função fisiológica. Eu às vezes fico tentado a deixar essa divisão de lado, por duas razões: em primeiro lugar, a visão de que construções humanas (até prédios e lixões urbanos) não fazem parte da natureza é muitas vezes ilusória, fazendo com que nos esqueçamos que estamos sujeitos a todas as outras leis da natureza, o que soa bastante arrogante e estúpido. Em segundo lugar, muitas vezes é fundamentalmente equivocada, levando a uma má representação e interpretação dos eventos.   

Além disso, nossos papéis impregnados de cocô de barbeiro ilustram de forma inequívoca como nossos controles de modelos biológicos são muitas vezes limitados, e como a variação é indissociável de nossas observações. Embora eu tenha a esperança de que os nossos experimentos sejam mais reprodutíveis do que esses papéis, é sempre importante refletir sobre nossas escolhas, e que muitas vezes optamos pelos aspectos mais "reprodutíveis" ou constantes dos eventos, simplesmente por não ter ferramentas para enfrentar a complexidade ou diversidade. Além de afetados pelo nossos vieses de observação, de história e de escolhas, não podemos esquecer que toda essa experiência revela o caráter absolutamente humano da ciência como da arte. Não existem dois experimentos iguais, nem dois cientistas iguais.  


PARA SABER MAIS


Number One

Number Two




MATERIAIS


Papel de filtro qualitativo (CIENLAB, 250g/m2). Fezes, urina, ovos e cadáveres de barbeiros da espécie Rhodnius prolixus.  Dimensões: 500mm x 200mm.


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