A defesa da inteligência

Ando apreensivo com os rumos da humanidade, tanto no nível mundial como no nosso pobre país. Apesar de vivermos numa época e sociedade caracterizadas e pautadas pelo progresso técnico e científico, o que vemos no nosso dia a dia e no noticiário político é um desprezo pelo conhecimento e pela ciência sem precedentes. É possível que a razão desse movimento seja a frustração de um sentimento ilusório de que a ciência fosse resolver todos os nossos problemas da sociedade – ilusório por que uma boa parte dos problemas das sociedades atuais não é científica. Mas não é pelo desprezo com o progresso técnico que chegaremos a um lugar melhor, isso será apenas a fonte de novos problemas. O mal do século XXI será a burrice.

Apesar de ser um termo em desuso, a burrice merece ser estudada, definida e caracterizada. Ela é um mal a ser evitado. Historicamente ela pode ser definida como falta de inteligência. A inteligência deixou de ser uma característica simples e facilmente reconhecida (talvez em um contexto reducionista) para virar algo multifacetado, multifatorial, de difícil estudo e classificação. São reconhecidos diferentes tipos de inteligência – seria possível definir diferentes tipos de burrice? Nesse sentido teríamos o burro emocional, o burro lógico-matemático, o burro físico-espacial, entre outros...

No entanto, essa perspectiva peca pela falha filosófica, epistemológica ou mesmo lógica de definir alguma coisa pelo que ela não é. Para reconhecer algo apropriadamente e entender suas causas e origens, necessitamos de uma definição positiva, afirmativa. A burrice, nesse sentido, também terá diferentes definições e sintomas. Um deles poderia ser o reducionismo, a simplificação. A opção pelo pensamento simplório, afoito, impaciente. A preferência pelo reforço do conhecimento adquirido em vez de sua crítica, tanto na forma do conformismo como na forma da defesa dogmática. A necessidade de auto afirmação e reconhecimento, em vez da empatia e de ouvir o outro. Esses elementos são apenas alguns exemplos, mas ajudam a compor o porquê tantas pessoas chegam a conclusões simplesmente estapafúrdias, a respeito de si mesmas ou da realidade que as cerca. Quando isso acontece no nível coletivo, temos um caldeirão de burros que coloca em risco até os alicerces do mundo moderno.


É preciso entender a burrice para preveni-la, pois ela é um mal e uma ameaça ao nosso mundo, sociedade, ambiente, saúde. Não adianta investir em progresso técnico se uma grande parte da sociedade opta voluntária e conscientemente por desprezá-lo e não entendê-lo. Até as pedras sabem que chegamos aonde estamos com o conhecimento, especialmente quando elas começaram a ser lascadas e polidas pelos nossos ancestrais...

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