O Entomol

Entre os dias 25 e 29 de Outubro participei do Entomol, uma reunião entre estudiosos de entomologia, especialmente voltados para vetores de doenças. A reunião ocorre a cada dois anos e é patrocinada pela SOVE (Sociedade of Vector Ecology), uma associação mundial dedicada ao estudo desses insetos. Este ano o encontro foi organizado pelos doutores Sinval Brandão, Maria Helena Neves Silva-Filha e Paulo Pimenta, todos da FIOCRUZ, que estão de parabéns pelo maravilhoso resultado. Deixo público meu agradecimento pelo enorme esforço empreendido por toda a equipe envolvida.

No encontro foram apresentadas e discutidas as mais inovadoras estratégias de controle de insetos vetores, incluindo mosquitos transgênicos para bloqueio de malária e dengue, bactérias para controle de malária, dengue, estudos taxonômicos e epidemiológicos de flebotomíneos transmissores de Leishmaniose, análises populacionais e comportamentais de vetores e estudos sobre transmissão de vírus zika. Foram apresentados estudos sobre repelentes, novos inseticidas, novas armadilhas, evolução de parasitas e sistema imune de insetos e sua interação com patógenos. Eu pessoalmente tive a oportunidade de apresentar nossos resultados relativos à descrição de alimentação açucarada em barbeiros (triatomíneos vetores de doença de Chagas).

Participar de encontros científicos é sempre estimulante. Há um pouco de controvérsia a respeito do peso que cada um dá a cada um dos atrativos que esse tipo de evento pode trazer ao público. Eu pessoalmente não me importo com o local do evento, desde que não atrapalhe. Acho um pouco extravagante a idéia de transformar encontros científicos em eventos turísticos, e às vezes tenho a impressão de que com isso perde-se a concentração. Muitas vezes vejo estudantes e pesquisadores entusiasmados com o fato de que um congresso será em um lugar paradisíaco, quando no meu íntimo penso ¨que bobagem¨. Por mim seriam todos sempre no mesmo lugar, para facilitar a organização. E de preferência em um lugar barato e de fácil acesso. Com isso me acostumei a ir a Caxambu, nos encontros da SBPz, e estou me acostumando a ir a Recife (e sinto sempre saudade dos encontros da SBBq em Caxambu). Recife também tem muitos atrativos, mas com o tempo eu me acostumo a ir sempre aos mesmos lugares, o que para mim está ótimo e é melhor ainda em termos de organização. Como gosto muito de artes, a visita ao Instituto Ricardo Brennand e ao atelier Francisco Brennand são obrigatórias.

Contudo, apesar da excelência científica do evento, e da alegria de ver muitos amigos, este ano é difícil escapar de um sentimento agridoce. Foi muito estimulante ver o trabalho fantástico de colegas estrangeiros, especialmente Douglas Norris e sua armadilha robótica para mosquitos e David Sacks e seus estudos espetaculares sobre a infecção de flebotomíneos por parasitas Leishmania. Mas o contraste com a nossa situação e perspectivas é assustador. Está difícil demais fazer pesquisa de bom nível no país, por falta de recursos, estrutura, apoio, incentivo e reconhecimento. É uma lástima que a sociedade e o estado não percebam que o caminho para um futuro melhor depende inequivocamente de mais e melhores investimentos em Educação, Ciência e Tecnologia.


Seja como for, o Entomol em Recife se destacou como um dos melhores eventos científicos de minha área em 2016. Parabéns aos organizadores e à SOVE!

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