Everything is connected (I)
HISTÓRICO
O desenho "Everything is connected" é o primeiro de uma série, cuja produção teve início
no ano de 2020. Nesse ano nós nos despedimos de mamãe, após uma longa
enfermidade, sendo um dos anos mais difíceis que tive em termos pessoais. Comecei
a desenhar para me distrair da tristeza.
Mas a história
desse quadro remete a outros eventos. Há alguns anos ministro a disciplina de
pós-graduação ¨Bioquímica Avançada¨ na Fundação Oswaldo Cruz, e a avaliação
final é a entrega e apresentação de uma obra de arte baseada no conteúdo da disciplina.
Todo ano, quando explico isso para os alunos, há um certo estranhamento, mas no
final do semestre sempre temos surpresas impressionantes. E, para dar o
exemplo, também produzo a minha obra artística e apresento no dia de encerramento
da disciplina.
Os alunos são
extremamente talentosos e exploram diferentes tipos de mídia e de produção. Eu
sou mais comedido e fico só nos desenhos mesmo. Mas ao longo dos anos fui
desenhando coisas diferentes para apresentar aos alunos, e sem dúvida essas
experiências foram importantes para o início desses desenhos.
Outra influência
decisiva nesse processo são os queridíssimos professores Rod e Viv Dillon, da
Universidade de Lancaster e Liverpool. Temos uma longa amizade, e eu sempre
fiquei muito impressionado com as iniciativas deles no campo da Ciência e da
Arte. Aprendi muito com os dois. Conversar com eles sobre nossos projetos tem
sido uma das melhores coisas da minha carreira, e sem dúvida eles foram uma grande
inspiração para o início das minhas atividades artistísticas na Fundação
Oswaldo Cruz. Não é por acaso que o primeiro quadro da série é dedicado a eles,
e está guardaddo para dar de presente quando nos reencontrarmos...
Além disso, a
referência óbvia para qualquer criação artística de minha parte é minha mãe.
Dona Nina foi uma grande artista, e tivemos uma educação artística de excelente
nível. Até hoje sou apaixonado por arte, e nas viagens a trabalho quando
consigo ter uma folga o meu prazer maior são sempre os museus. Não há dúvidas
de que desenhar é uma forma de me sentir mais próximo de mamãe.
O CONCEITO
A inspiração
inicial para o desenho foram as estuturas de compostos químicos. Especialmente
os compostos cíclicos de carbono, e as longas cadeias características das biomoléculas
complexas como proteínas, polissacarídeos, ácidos nucleicos. Conforme o desenho
foi se desenvolvendo, tentei representar a continuidade das estuturas vivas,
que sempre podem ser imaginadas como uma cadeia infinita de átomos e de
interações. Finalizada a estrutura do desenho, decidi usar cores diferentes
para cada um dos espaços, e durante o processo de pintura a idéia da
delimitação de campos começou a surgir. A idéia de campos e espaços distintos,
mas contíguos, evoluiu para o conceito de convivência e de multiplicidades, e daí para a percepção das conexões infinitas que são características do mundo biológico. A realidade pode
ser vista como um mosaico de experiências, fragmentadas e contínuas, por mais
contraditório que isso possa parecer.
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